É isso, meus amigos. Não é mais um hiato, não é preparo pra uma renovação, não é nem drama... este é o último artigo do Blog do Retronista.
Na real, nem sei exatamente o que dizer. Mesmo que eu o tenha abandonado tantas vezes, esse site foi responsável por grandes mudanças na minha vida. Se eu não tivesse tido a coragem de começá-lo e ver o quanto gosto de escrever, não consigo nem pensar o que aconteceria sem esse caminho. Esse blog, sem dúvida alguma, transformou minha vida.
Com ele sendo tão especial pra mim, decidi dar um final adequado pra ele. Havia preparado uma lista de clássicos que iria jogar e resenhar, mas o ritmo intenso de 2019 me fez repensar, e com o dia da inauguração do blog chegando, decidi fechar o ciclo de 8 anos (meu número da sorte). Cortei vários jogos da lista pra caber no cronograma, cancelando artigos sobre Comix Zone, Gunstar Heroes, Sonic 3 & Knuckles, Aero the Acrobat, Metroid, Final Fantasy V, e muitos, muitos outros. Para esse último mês, escolhi alguns jogos muito especiais, e para o artigo final, escolhi aquele que considero meu jogo favorito de todos os tempos, e que felizmente é antigo o bastante pra ser considerado nostálgico e retrô, mantendo o tema até o final.
Suikoden II foi desenvolvido e publicado pela Konami em 1998, 1999 e 2000 nas várias regiões do mundo para o PlayStation original, o console de CDs da Sony que revolucionou o mercado. Criado por Yoshitama Murayama, o primeiro jogo da série foi lançado em 1995 e teve um sucesso considerável, além de sucesso entre a crítica, o que deu garantias e experiência para a equipe, que decidiram fazer o jogo que realmente queriam desde o começo. Entretanto, o lançamento limitado e a recepção morna não fizeram o jogo ficar à venda por muito tempo, mas o mundo deu voltas, e atualmente, o jogo é um clássico aclamado como um dos melhores jogos do gênero e do console.
O PSOne foi revolucionário pois fazer jogos se tornou absurdamente mais barato pelo custo baixo de se produzir CDs, uma mídia poderosa para os padrões da época, e que fez diferença. Contudo, essa "maleabilidade" é uma faca de dois gumes, já que copiar jogos se tornou ofensivamente mais fácil e pirataria se tornou uma realidade na vida de todos nós, jovens pobres dos anos 2000. Eu encontrei esse ícone numa loja de discos qualquer na minha infância, já que elas vendiam CDs de música e de jogos pra fazer aquele dinheiro a mais.
Os maiores momentos vem de onde menos se espera.
Agora vou explicar passo a passo porque esse jogo é absolutamente perfeito (mentira, defeitos existem, mas eu ignoro a maior parte deles) e porque você deveria baixá-lo e gravá-lo assim que terminar de ler o texto e lidar com o fato de que o blog acabou.
O jogo conta a história de dois amigos, o protagonista (que pode ter o nome escolhido pelo jogador, mas que também é chamado de Riou em alguns materiais oficiais) e Jowy Atreides, dois amigos de infância que tem suas vidas mudadas para sempre ao se verem envolvidos na guerra entre o império e High e as Cidades-Estado de Jowston, e as tramas políticas que se desenvolvem nos conflitos. É uma história de política, de guerra, de traição, de amizade, de risos, de lágrimas.
Ambos começam como recrutas do exército imperial de Highland, mas entram em uma situação complicada e tensa quando eles e a unidade são atacados pelo que parecem ser soldados de Jowston. Ao tentar avisar seu comandante, descobrem que o massacre foi armado pelo príncipe Luca Blight e o comandante, para manipular a opinião pública e conseguir suporte para recomeçar a guerra entre o império e as cidades-Estado. Eles conseguem fugir, mas são cercados e forçados a pular em um rio rumo ao desconhecido.
É nesse momento que os créditos de abertura começam, junto com o que pra mim é o tema principal do jogo e um flashback rápido sobre a relação de Jowy e o protagonista. E sem você perceber, essa cena estabelece muito do tom do jogo. Ao vê-a novamente jogando com um olhar adulto, percebi que esse jogo realmente não era um jogo comum, e que fui muito agraciado por tê-lo conhecido na minha infância, ao invés de ser outro jogo nostálgico que descobri na faculdade.
A trama começa a se complicar consideravelmente a partir daí, e por isso, decidi não fazer um sumário. Quero que a pessoa que esteja lendo isso, por qualquer motivo, jogue esse jogo, e a história, apesar de não ser complicada, é extensa. Então vou destacar alguns dos pontos principais dela. principalmente os que diferenciam esse jogo, e por extensão a série, em geral.
O que diferencia o protagonista e Jowy das outras pessoas do mundo é que ambos são portadores de uma True Rune. No mundo do jogo, a magia é gerada por runas, símbolos mágicos que invocam o poder da natureza, e dentre essas runas, existem as 27 True Runes, as runas mais poderosas, que são incarnações de aspectos universais, mantem o mundo funcionando e deram origem a magia através de suas sub-runas, por assim dizer. No caso deles, cada um fica com uma metade da Rune of the Beginning (Runa do Começo), que representa a relação conflituosa e paradoxal entre criação e destruição (pelo menos o que entendi), com o protagonista ficando com a Bright Shield Rune, que representa proteção e tem magias mais defensivas, e Jowy com a Black Sword Rune, que represena agressão e tem magias ofensivas. Reza a lenda que os portadores dessas runas se tornam destinados a entrar em conflito, e no fim das contas, é o que acontece com eles.
Após uma terrível traição, Jowy se torna um oficial do império, lutando para ascender e dar um fi ma essa guerra colocando tudo sob seu controle, e o protagonista se torna o líder de um exército de resistência, que luta pra deter o avanço do império, salvar o país de uma invasão e mudar a política e o futuro de todos os cidadãos.
A resistência começa fraca e dispersa, mas com a ajuda de seus companheiros, ela vai se tornando uma força a ser temida. E isso tudo é possível graças aos 108 personagens que você pode recrutar durante o jogo.
Sim, você ouviu: você pode recrutar 108 personagens.
Uma das características da série Suikoden são as 108 Estrelas do Destino, conceito tirado de um clássico da literatura antiga chinesa que serviu de base pra série. Durante o jogo, você pode recrutar pessoas de todos os tipos, que podem se tornar usáveis em vários tipos de batalhas, expandir sua base e garantir que sua revolução mude o mundo. Muitos desses personagens também trazem mini-games, cenas secretas e side-quests que expandem sua história e o universo dos jogos. Entretanto, alguns só podem ser recrutado em momentos específicos do jogo, e se perder a chance, não vai conseguir obter o final bom do jogo, que também é considerado o verdadeiro.
É isso que considero uma narrativa imersiva: uma narrativa rica e expansiva, que se desenrola aos poucos, mesmo com tropeços, com adicionais acrescentados de forma totalmente opcional porém que são divertidos mas tornam o ritmo do jogo mais agradável. Eu lembro de jogar com um dicionário português-inglês do lado pra tentar entender melhor a história, e foi um trabalho que valeu a pena.
Uma coisa que ouvi recentemente e que faz sentido de um certo jeito é que uma parte sólida dos jogos 3D do PlayStation infelizmente envelheceu mal, mas os jogos 2D parecem cada dia mais bonitos. E esse certamente é o caso aqui, apesar do estilo poder ser considerado ousado no contexto.
O maior atrativo do Play1 e dos jogos em CD foi a acessibilidade dada a jogos 3D, que inevitavelmente se tornaram o padrão e que foi utilizada com vigor pela grande líder de vendas no gênero, Square Enix. Os cenários pré-renderizados, personagens 3D e animações de história e batalhas foram o que fez a empresa se firmar de vez no ocidente e tornou os RPGs japoneses mais mainstream do que nunca. Suikoden foi claramente criado pra competir com FF, mas uma estética de Super Nintendo melhorada talvez não chamaria tanta atenção no meio da revolução 3D, que inclusive a própria Konami alimentou com Metal Gear Solid.
Apesar de pixel art e trabalhados no estilo 8-bit e 16-bit serem populares hoje em dia, até mesmo quem não curte consegue apreciar a beleza e fofura dos gráficos de Suikoden II. Cada cidade tem seu próprio estilo, cada personagem importante ou único pra história tem seu próprio estilo e arma, e o poder extra do console realmente fez a diferença, com sprites mais detalhados e animados, tanto nas cutscenes quanto nas batalhas.
As cidades parecem versões mais detalhadas e aprofundadas das cidades dos jogos dos SNES, com muito mais detalhes do que o habitual, com plantinhas, marcas de tempo, quadros e pinturas... O sprite normal dos personagens esboçam reações em um certo grau, acompanhado de piadinhas visuais similares a de animes. Na hora da batalha, o cenário muda pra um 3D decorado com 2D e os personagens assumem uma pose de batalha, com animações ainda melhores, cada um com seu estilo único de lutas. Os monstros fogem um pouco das convenções clássicas e se integram melhor no cenário por estarem no mesmo estilo de design dos personagens, ao invés de serem meras reproduções de desenhos em pixels.
A trilha sonora desse jogo é simplesmente a trilha da minha vida, com trilhas dignas de estarem entre as mais icônicas dos jogo. Miki Higashino fez um trabalho estupendo no primeiro jogo e fez ainda melhor no segundo, criando uma espécie de identidade sonora do jogo, o que torna o processo de jogar ainda mais legal. E apesar de não falar muito sobre, o design de som desse jogo está de parabéns, com barulhos diversos ao invés de ruídos aleatórios, trazendo uma experiência completa.
O melhor exemplo do quanto esse jogo é lindo, é a cidade que serve de abrigo pro seu exército, e que pode receber o nome que você Antes uma cidade fantasma dizimada por um vampiro, ela vai se transformando em uma cidade viva e movimentada, além de um símbolo de resistência e esperança. Muitos dos personagens que você recruta servem para expandir e voluir o castelo, com lojas de itens, armaduras, runas, além de uma cozinha, um teatro, um galpão para guardar itens que você não precisa mais... evoluir a sua cidade também faz parte do jogo, e com isso é possível recrutar mais algumas das Estrelas.
Suikoden II, apesar do tom diferenciado, acaba não fugindo muito da fórmula, mas como ninguém envolvido estava de brincadeira, há três formas de jogabilidade dentro do jogo, as batalhas por turno normais, as batalhas de exercíto e os duelos.
As batalhas por turno funcionam como você está cansado de saber. Você pode montar uma equipe de até seis personagens, e pelo menos 70 das 108 Stars of Destiny são usáveis nesse momento. A cada momento que chega sua vez, você pode decidir entre lutar, fugir (ou deixar escapar, se você estiver num nível muito acima dos monstros), subornar e deixar o computador lutar por você.
Se você escolhe encarar a treta (ou não, caso seja um chefe), cada um dos seus personagens entre atacar, defender (diminuir o dano na rodada em questão), usar runas para invocar magias, usar um ataque conjunto com outro personagem se possível (essas combinações podem salvar sua pele) ou mudar de lugar com a pessoa de trás. Ao contrário de outros RPGs, cada personagem tem um equipamento permanente, que pode ser uma espada, uma lança, um arco e flecha, uma pistola, uma panela, um broche, um livro... ou no caso do herói, um par de tonfas. O posicionamento dos seus personagens é importante na batalha, pois alguns não atacam se forem posicionados na parte de trás da fileira.
Além dos ataques físicos, magia também pode ser uma ferramenta a seu favor. Como falei antes, magias se manifestam através do uso de runas. Elas podem ser puramente mágicas, como a runa de fogo, de água, de vento, ou podem ter influência na força, na chance de ataques críticos ou prover ataques especiais únicos a certos personagens. Entretanto, ao invés de MP, cada runa mágica normal pode ter quatro níveis de magia, e cada nível tem um número de usos (Ex.: em um determinado nível, você pode usar a mágia básica de fogo 6 vezes, a mágia nível 2, 3 vezes, e a magia nível 3, 1 vez). Tecnicamente, cada personagem pode equipar pelo menos 3 runas, mas dependendo da aptidão do personagem para magia, você provavelmente vai usar muitos personagens com uma ou duas runas só.
As batalhas de exercíto estão mais ligadas à história, mas ofecerem uma quebra de ritmo interessante, mesmo que um pouco limitada. São batalhas táticas, similar a jogos como Fire Emblem, em que você move unidades do seu exército por um campo até encontrar com uma unidade adversária e enfrentá-la. Além de ataques normais, os personagens recrutados por você que assumem comando de uma unidade a habilitam com habilidades especiais, como ataques mais fortes, magias especiais e até recuperação. Infelizmente, assim como Fire Emblem, alguns personagens podem morrer permanentemente durante esses momentos, afetando consideravelmente não só o andamento o história, mas o comportamento de alguns personagens. Além disso, algumas batalhas não podem ser vencidas justamente por elas serem parte da história e já serem roteirizadas pra acabar de um jeito, o que pra mim, foi um toque muito interessante.
Os duelos acontecem em momentos cruciais da história, são lutas um-contra-um entre o protagonista e alguém importante naquele momento do jogo, com uma cara de jogo de luta mesmo. No duelo, você tem três opções: ataque, defesa, e ataque selvagem. Elas seguem a mecânica joquempô, onde cada opção tem seu ponto fraco e pode até gerar um contra-ataque efetivo. Prestar atenção no diálogo pode dar dicas de que ação seu oponente vai escolher e responder da melhor maneira possível. Inclusive, é através de um duelo que se decide o final do jogo, mas é preciso duelar de forma inteligente pra tudo dar certo.
Quanto mais Estrelas você recrutar, mais versatilidade você terá em todos esses momentos do jogo, pois alguns dos personagens não-utilizáveis nas batalhas por turno participam das batalhas de exército. E ao recrutar todas as 108, além do final certo, você libera a magia mais poderosa do protagonista, que pode fazer a diferença nas batalhas finais.
Apesar do jogo ter várias side-quests interessantes, considero que o extra mais legal de Suikoden II é a retrocompatibilidade com o primeiro jogo. Se você tiver um save file completo de Suikoden, você pode transferir bônus para personagens que estavam no primeiro jogo, além de algumas armaduras, e até mesmo libera o protagonista do primeiro jogo, McDohl, como um personagem opcional, além de uma receita especial para o restaurante.
Eu poderia falar sobre os duelos de cozinheiros, sobre as cenas secretas na banheira, sobre o passado do pai do protagonista, sobre onde encontrar algumas runas secretas... eu poderia falar sobre tanta coisa. E é exatamente por isso que eu amo Suikoden II. Essa atenção aos detalhes transformada em ideias expansivas. Enquanto pesquisava imagens pra colocar aqui, li um artigo dizendo que foi encontrado vestígios de New Game + no código do jogo, possibilitando uma nova jornada com novas escolhas e possibilidades sem regredir de nível. Eu acho que isso teria sido incrível e possivelmente demais pra mente ainda limpa e despreparada do meu eu de 11 anos.
Enquanto elabora esse texto, refleti sobre por que comecei esse blog. E decidi que era para compartilhar coisas boas. Eu sou uma pessoa bem simplista às vezes, e foi muito bom usar esse site para transmitir tantos pensamentos e sentimentos positivos que esses jogos me proporcionaram. Eu recomendo Suikoden II de todo meu coração, assim como todos os jogos que já falei aqui, até mesmo os que eu critiquei sem dó.
Sobre o blog, ele vai continuar online indefinidamente. Até esse artigo ter saído, terei respondido comentários postados aqui ao longo dos anos e que acabaram ignorados pela minha lerdeza., mas em algum momento, eu o arquivarei para meu acervo pessoal online (ou quem sabe portfólio). Continuarei a escrever sem nenhuma dúvida, mas agora serei um cronista aleatório no Medium, publicando pensamentos e reflexões sobre aonde a vida acaba me levando. Inclusive, tenho um texto sobre o blog planejado e que terá saído até a publicação desse artigo, se tudo der certo.
Sobre a minha vida de gamer, decidi dedicar minha vida aos JRPGs. São o único gênero de jogo que mantem meu interesse real, e graças ao meu play2 e aos emuladores, tenho acesso a inúmeros clássicos do gênero que me entreterão por muito tempo. Não sei se escreverei sobre eles, mas com certeza você verá influências deles em meus outros trabalhos.
A você que leu esse texto e leu o Blog do Retronista, muito obrigado, e desculpa qualquer coisa. Espero que dê tudo certo pra você também (a não ser que você seja fascista, claro).
Por hoje é só, pessoal. Vejo vocês nas páginas engraçadas.
Enquanto elabora esse texto, refleti sobre por que comecei esse blog. E decidi que era para compartilhar coisas boas. Eu sou uma pessoa bem simplista às vezes, e foi muito bom usar esse site para transmitir tantos pensamentos e sentimentos positivos que esses jogos me proporcionaram. Eu recomendo Suikoden II de todo meu coração, assim como todos os jogos que já falei aqui, até mesmo os que eu critiquei sem dó.
Sobre o blog, ele vai continuar online indefinidamente. Até esse artigo ter saído, terei respondido comentários postados aqui ao longo dos anos e que acabaram ignorados pela minha lerdeza., mas em algum momento, eu o arquivarei para meu acervo pessoal online (ou quem sabe portfólio). Continuarei a escrever sem nenhuma dúvida, mas agora serei um cronista aleatório no Medium, publicando pensamentos e reflexões sobre aonde a vida acaba me levando. Inclusive, tenho um texto sobre o blog planejado e que terá saído até a publicação desse artigo, se tudo der certo.
Sobre a minha vida de gamer, decidi dedicar minha vida aos JRPGs. São o único gênero de jogo que mantem meu interesse real, e graças ao meu play2 e aos emuladores, tenho acesso a inúmeros clássicos do gênero que me entreterão por muito tempo. Não sei se escreverei sobre eles, mas com certeza você verá influências deles em meus outros trabalhos.
A você que leu esse texto e leu o Blog do Retronista, muito obrigado, e desculpa qualquer coisa. Espero que dê tudo certo pra você também (a não ser que você seja fascista, claro).
Por hoje é só, pessoal. Vejo vocês nas páginas engraçadas.
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