segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

Ristar


O primeiro console com o qual eu tive um contato real na minha vida foi um Mega Drive, graças a um CD-ROM de compilação instalado pelo cara que instalou o computador pro meu avô no sítio e dele. Foi graças a isso que conheci o poder dos videogames e deixei passar muitas oportunidades de explorar o mato lá fora ou provar da luz do sol.

Levando em conta o tanto de bicho-de-pé que meus primos pegavam, eu não me arrependo.

Dentre as inúmeras memórias as quais posso escolher, um dos jogos que eu mais joguei era Ristar. Junto com Sonic, Comix Zone, Streets of Rage e muitos outros, esse joguinho plantou a semente dessa paixão pelo desafio no meu coração, mas que só floresceria de fato anos depois.

Teoricamente desenvolvido pelo Sonic Team, responsável pela franquia que dá nome a equipe e por clássicos como Nights Into Dreams, Ristar foi lançado em fevereiro de 1995, no fim da vida útil de seu console, e poucos meses antes de seu sucessor, o Sega Saturn. Apesar da falta de sequências, o jogo ainda é incluído em compilações e referenciado por sua dificuldade e identidade única.

É hora de fazer nossa estrela brilhar mais do que uma Lua de Cristal.


Assim como muitos jogos dessa época, Ristar tem enredos diferentes entre as versões japonesa e americana, apesar das diferenças não serem tão gritantes assim. Em ambas as versões jogo se passa no sistema planetário Valdi, onde o pirata espacial Kaiser Greedy dominou a mente dos líderes de todos os mundo para obedecê-lo, e cabe a você, Ristar, parar seus planos malignos.

O que muda é a origem do herói. Na versão japonesa, ele é enviado da deusa estelar Oruto, com a missão de respondder aos clamores das vítimas da maldade de Greedy. Na versão americana, ele é filho do Legendary Hero, o protetor de Valdi, que é sequestrado por Greedy, o que torna a situação ainda mais pessoal.

De qualquer jeito, você tem que ir de planeta em planeta, libertar seus habitantes dos piratas espaciais e destruir as ambições de Greedy por completo.


Por ter vindo em um momento bem tardio para o Mega Drive, a experiência acumulada se mostrou na forma em como o jogo extrai o máximo de poder do aparelho, com visuais mais bonitos e músicas melhor sintetizadas. Ristar é um jogo de ótima qualidade visual e criatividade.

Os cenários são expansivos e que convidam à exploração. Eles permitem que o poder do herói seja usado ao seu máximo, com espaço para os braços esticarem. Cada planeta de Valdi tem uma característica única, que permitem a aparição de clichês em jogos de plataforma, como o mundo do gelo e o mundo das florestas. Com isso, os planetas tem seus nomes e identidades únicas, o que torna a aventura muito mais adorável.

Não sei se é o melhor jeito de colocar, mas é como se fosse Sonic, mas sem as coisas que tentam "aproximá-lo" da realidade.

Os personagens estão entre alguns dos mais bem trabalhados e estilizados, mesmo com a sua simplicidade. Ristar é uma estrela com pernas e braços, mas colocar somente seu rosto como uma estrela de fato o fez parecer como um herói de desenho animado, praticamente pronto pra ser uma mascote. Os servos de Greedy possuem um padrão distinto em seus desenhos e formatos. A qualidade das animações mostra que eles souberam aproveitar a experiência de programação tornando tudo melhor.

Talvez eu esteja ofendendo muita gente com o que vou dizer, mas não acho que a trilha do jogo é memorável, mas isso não a torna menos excelente. Posso não manjar desses assuntos, mas a experiência também serviu pra sintentização da trilha sonora, que inevitavelmente herdou uma influência considerável de Sonic. Há também a presença de dublagem no jogo em alguns poucos momentos, mas fica claro que todo trabalho e espaço foi pra música.


Ao contrário de muitos protagonistas de videogames, a força de Ristar não está no seu pulo e no seu soco, mas sim à sua elasticidade.

A principal mecânica do jogo é que a estrela cadente pode esticar seus braços em pelo menos, oito direções. Com essa habilidade, você pode atacar inimigos, abrir baús com tesouros, como energia, pontos, e vida, e interagir com o cenário. Apesar do curto alcance, o jogo é construído de forma sólida em torno dessa mecânica, e aprender a manusear esses poderes não é fácil mais satisfatório.

Ristar não foge da luta, nocauteando os inimigos com a força do corpo após capturá-los com as mãos e puxá-los para perto, ao melhor estilo Scorpion, além poder atirar objetos para evitar o risco de dano. É com esse impacto que ele abre os baús, que podem conter estrelas amarelas, que recuperam uma estrela da sua barra de vida, estrelas azuis, que regeneram a barra inteira, barras de ouro, que acrescentam na pontuação, e bonecos do herói, que valem uma vida. Mas não se esqueça que você precisa esticar suas mãos para pegar o item.

Para andar pelas fases, você vai precisar se pendurar em muitos lugares, como alças para escalar ou atravessar passarelas, além de usar seus braços para manobrar por vários de tipos de obstáculos. Você também pode usar o impacto do seu ataque para abrir novos caminhos pelo cenário, podendo até achar as entradas para as fases bônus.

Falando em fases-bônus, elas só são acessadas pelas "Star Handles", estruturas especiais que permitem que você gire e ganhe momento para então decolar pelo cenário. A normal só serve apenas pra isso, mas a energia acumulada do giro pode dar ao Ristar a habilidade "Meteor Strike", que faz com que ele voe pelo cenário como um míssil. Explorando o cenário, você pode encontrar secreta uma que leva fase-bônus, e completá-la garante um continue e um tesouro especial, tendo uma fase por nível. E a final é como você encerra a fase, podendo até faturar uns pontos extras dependendo de como você sair do planeta, semelhante a pular no ponto certo da bandeira em Super Mario Bros..

E pra galera que gosta de fechar os jogos com 100%, coletar todos os tesouros dos bônus traz como prêmios senhas secretas para trapaças e opções especiais no jogo. Achei um prêmio justo.


Ristar é uma linda pérola que quase se perdeu na vastidão do mar. É um exemplo de como é possível fazer um bom jogo com dedicação, mesmo que no final de uma era, onde os interesses já começam a focar no que vem a seguir. Infelizmente, mesmo sendo relançado em coletâneas e em uma versão para celulares, não há nenhuma previsão para uma sequência ou remake, algo que espero que mude no futuro.

E semana que vem, vamos ver um jogo que transformou a história dos games de um jeito humilde, mas poderoso, mostrando a todos que o 3D era inevitável, e que era a chave que poderia abrir muitas portas para a diversão.

Por hoje é só, pessoal!

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