domingo, 29 de abril de 2012

EarthBound


RPG é um dos gêneros com o maior número de clichês possível.

Seja na ambientação, na história, no passado dos personagens, ou até mesmo os próprios personagens. RPGs sempre seguem certas convenções, apesar de que, uma vez ou outra, sempre aparece um jogo que chega pra distorcer essa convenções.

EarthBound é um desses jogos, definitivamente.

Criado por Shigesato Itoi e desenvolvido pela HAL Laboratory, a mesma criadora de Kirby, o jogo foi lançado  em 1994 no Japão e 1995 nos Estados Unidos. Apesar de não ter vendido muito na época, Earthbound foi aclamado pelos jogadores por seu humor em relação ao modo de vida americano e por ser uma paródia do gênero de RPG em geral, se tornando um clássico cult. O jogo é conhecido como Mother 2 no Japão e é a continuação de Mother, que também possui uma temática semelhante, não sendo muito referenciado na sua continuação, apesar de possuírem o mesmo vilão, Giygas.

Preparem-se para ver um RPG como nunca antes visto.


A história começa numa noite calma, tranquila e absolutamente comum na cidade de Onett. Do nada, um meteoro cai no morro, e um grupo de crianças, lideradas por Ness, decidiu investigar.

Dentro do meteoro havia um mosquito do futuro, Buzz Buzz, que diz pra Ness sobre o mundo de daqui a dez anos. Nesse tempo, um alien chamado Giygas terá dominado o planeta, e que no presente, ele está manipulando a vontade de diversos seres para conseguir seus objetivos. Ele ainda acrescenta que Ness é o único que pode derrotá-lo. Para isso, ele precisará ir para os oito "Seu Santuário" e coletar as oito partes da Melodia. E ele aceita essa missão.

Sim, foi só isso. Ele decidiu aceitar essa missão e seus pais e irmã aceitaram isso numa boa. A partir daí, ele parte em uma jornada pelo mundo em busca dos santuários e descobre que a influência de Giygas está se espalhando rapidamente pelo mundo. Na verdade, Ness é uma paródia dos heróis de RPG, que recebem a missão de salvar o mundo completamente do nada ou por algum outro motivo esdrúxulo. Mas assim como o destino colocou o destino nas mãos de um garoto do subúrbio, ele também decidiu chamar outros aliados para unir-se a Ness nessa batalha pelo mundo.

Paula, uma criança sensitiva com a capacidade de ler os corações das pessoas que foi sequestrada por um culto, Jeff, um menino estereotipicamente nerd e filho de um famoso cientista, além de um gênio e Poo, príncipe do reino distante de Dalaam, especialista em artes marciais se unem ao garoto nessa caminhada heróica. Cada um deles, assim como o protagonista, são paródias dos arquétipos dos RPGs, respectivamente a heroína sensível, o inteligente e o socador.

Os vilões, apesar de representarem certos clichés, chegam ao nível do bizarro. Hippies, policiais, senhoras gordas, corvos, skatistas, religiosos, gosmas... se eu ficasse descrevendo os inimigos, levaria o dia todo. Mas o que eu quero me focar é no vilão principal, Giygas.

A idéia principal por trás do vilão é um trauma do criador do jogo, Shigesato Itoi. Após ver uma cena de um estupro em um filme japonês antigo, ele ficou traumatizado completamente, e decidiu manifestar todo o trauma na criação do vilão. As falas de Giygas na sua batalha são fora de contexto e sua imagem na hora da luta é perturbadora. Giygas é considerado um dos vilões mais sinistros dos jogos da Nintendo, e seu braço-direito vai pegar muitos de surpresa, principalmente no final da trama.


EarthBound também possui um visual único, assim como todos os outros aspectos.

O visual é do jogo é meio cartunesco, lembrando bastante desenhos a lápis, com detalhes bastante cartunescos e bem surreais, que fazem parte do estilo do jogo. Eu pessoalmente achei bem legal esse estilo, pois os RPGs estavam ganhando gráficos cada vez mais avançados e EarthBound meio que foi um alívio no meio disso tudo, apesar de que, nessa época, bons gráficos vinham com boas histórias. Mas o jogo possui seus méritos.

Como não há world map, todas as áreas do jogo são interligados, pois Itoi não queria distinção entre as cidades e o mundo externo. Com isso, cada área, seja cidade ou floresta, foi criada com a intenção de ser única. E eis um ponto onde eu mais queria chegar: a ambientação.

O jogo foi criado como uma paródia do gênero RPG em geral. Levando em conta que a maioria esmagadora dos RPGs se passar numa época medieval, de fantasia e magia, EarthBound seguiu o caminho contrário, se passando no mundo contemporâneo, com cidades no lugar de aldeias e mercadinhos no lugar de lojas. Graças a ausência de um overworld, cada cidade é completamente diferente uma da outra, assim como no mundo real. Twoson, por exemplo, parece uma cidade média, enquanto Foursome é diagonal e possui cara de metrópole, e por aí vai.

Em compensação, não há campos de batalhas basicamente. A visão dos personagens é em primeira pessoa,  e além do monstro, há um cenário psicodélico ao fundo, um dos pontos fortes dos gráficos do jogo. Existem inúmeros tipos de cenários, sendo o mais famoso o da batalha final contra Giygas, que colabora para o fator perturbador da luta e do personagem, que perdeu controle sobre si mesmo, até mesmo sobre sua mente.

Os personagens parecem pessoas absolutamente normais, mas levemente estereotipadas (tá bom, tô sendo legal nesse aspecto). Como tudo ocorre numa versão bem parecida dos dias atuais, Ness e Cia. não possuem o visual bizarro e surreal de muitos (muitos mesmo) personagens de RPG. Já os monstros vão além do normal, fazendo com que muitos suspeitem de uso de dorgas por seu criador, mas isso é mais relacionado a enorme variedade, que faz jus à atmosfera nonsense do jogo, mantendo o traço cartunesco do resto.

A trilha sonora é belíssima. Não é épica nem nada disso, mas combina perfeitamente com o jogo. Ela foi composta por Hirokazu Tanaka, que trabalhou em jogos consagrados como Metroid, Duck Hunt e Kid Icarus. As músicas mostram todo o clima pacato do jogo durante a aventura, mas quando a coisa fica séria, a música fica séria também. Resumindo, ela combina sempre com o cenário em que você se encontra.

Mas assim como Super Mario RPG, há também uma faiz que eu quero destacar, a Eight Melodies. É um dos principais objetivos do jogo, sendo que Ness precisa coletar as oito partes e completar o som para liberar seus verdadeiros poderes e ser um adversário à altura de Giygas. A melodia aparece no jogo anterior, Mother, e se tornou o tema oficial da série devido a sua relevância na história.


EarthBound não apenas alterou a ambientação e os personagens de um RPG tradicional, como também alterou suas mecânicas incrivelmente, sem se afastar do básico.

O jogo é quase que totalmente linear, com pouquíssimas sidequests. Isso é um problema pra alguns jogadores, mas praqueles que se interessam mais pela história, não será problema. Tudo se resume a Ness ir de cidade em cidade, buscando pelos "Seu Santuário" pra completar a melodia, eliminando o mal que Giygas espalhou pelo mundo. Você enfrentará muitas batalhas, até contra si mesmo, então se prepare.

E pra se preparar, você precisará de dinheiro, neste caso, dólares. Ao contrário de outros jogos do gênero, ao invés de ouro ou de uma moeda fictícia, você recebe dinheiro real, em dólares, pra poder negociar itens no jogo. Basicamente, quando você vence uma batalha, o pai do Ness depositava um dinheiro na sua conta, que você pode extrair e depositar em uma conta no banco pelo meio de caixas-eletrônicos, que você pode acessar com um cartão de crédito. Nada mais lógico para o mundo onde se passa o jogo.

Nas batalhas, você tem dois status: HP e PP. Como não existe magia em Eagleland (o país onde o jogo acontece, caso eu tenha me esquecido de dizer), ela foi substituída por poderes psíquicos, os PSIs. Há três tipos de poderes psíquicos, derivados de tipos de magia, que são os ofensivos, defensivos e curativos. Alguns são exclusivos de cada personagem, como o famoso PSI Rockin', enquanto outros são comuns entre eles. Jeff não tem PP, porém pode consertar objetos encontrados pela aventura e os transformar em armas poderosas.

Os comandos são básicos de todo RPG. Você pode atacar fisicamente usando suas armas, que podem ser tacos de beisebol, panelas, pistolas e seus punhos, usar suas técnicas de PSI, usar itens, que são comidas de fast-food no lugar de poções e pirulitos no lugar de ethers. Cada personagem também possui seu comando especial em batalha. Ness pode tornar a batalha automática e fazer o grupo fugir, Paula pode rezar, sendo que o efeito é totalmente aleatório, podendo ser benéfico e prejudicial, Jeff pode espiar o inimigo, semelhante à clássica habilidade "Scan" e Poo pode copiar o ataque de inimigos.

Lembra que eu disse que Jeff poderia usar armas encontradas no lixo? Certos itens estão quebrados, e quando o grupo para pra descansar em um hotel, Jeff o conserta durante a noite, o transformando em diversas armas possíveis.

Há também um status exclusivo de Ness, o "homesick". Espalhados pelo jogo, há diversos telefones, gratuitos e pagos. Através deles, Ness pode salvar o jogo falando com seu pai, e guardar itens com sua irmã que trabalha pra Escargo Express. Mas se Ness ficar muito tempo sem falar com sua família, ele pode sentir muita falta, fazendo com que ele fique muito fraco em batalha. Então lembre-se de sempre ligar pra casa quando puder, se não você estará lascado.


EarthBound é um jogo completamente único. Como eu disse no começo, é um RPG nunca antes visto, pois é totalmente diferenciado em todos os aspectos. Assim como os outros dois jogos, eu recomendo veementemente que vossa pessoa o jogue, e jogue até o fim. Afinal, você não pode pegar a verdadeira forma do ataque de Giygas.

Amanhã, é hora de um jogo ainda mais revolucionário, que quebrou as tradições de uma série e a ajudou a torná-la o que é hoje. Tão revolucionário que o vilão consegui seus objetivos.

E só pra terminar, "It hurts... Ness..."

Por hoje é só, pessoal!

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